Não somos uno, somos união

Quem vivia em mim, seja qual fosse o seu nome, mudou-se. Não de sítio, mas de estado de espírito.
Compôs-se. E em gesto de concordância fez um esforço para unir o coração e a cabeça por um nó, um pequeno nó traçado. Certo é que a combinação não é óptima e por vezes este nem sempre aguenta. - Cabe-me a mim essa tarefa.
Perco a respiração sempre que um sufoco te cabe a mim ocorrer. (Não somos uno, somos união)
E as palavras que dizes... Diz-me outra vez, encontro-me nelas, ou talvez não, mas sinto-me seguro no nada que é meu.
Ao de leve uma mão vem-me tocando, não sei onde, pois perco a orientação de mim.
Encontro-me assim que te sinto perto, e não apenas uma mão.
Solta-se um beijo, o desejo, o querer mais que a vontade humana consegue. Mas porque a vontade ultrapassa a dos Deuses, finalmente, encontrei-te. - Seja essa a razão porque o tal que vive em mim mudou. - Agora não peço que fiques, faço sim um esforço para que fiques. Não hoje, nem amanhã; O tempo que achares conveniente, o tempo em que ainda haja este sentimento mútuo: O nosso tempo.
Indeterminável o tornamos, incontornável é, e talvez num outro tempo... Apenas nosso.

Por Pedro Cerqueira » Segunda-Feira Jul 12 2010 21:39

Odeio-me e sou feliz!

Passos em falso, dei. Porque mereci. Necessitei, porque não sou mais que ninguém.
Iludo, e desiludo, quem e tudo que por mim passa, mas não pedi eu que assim fosse.
Não pedi para ser mais um número a tentar ser número um. Não quero continuar nesta disputa arguidora, que me vai matando todos os dias, todas as vezes que chega alguém, se senta e me diz 'Olá!'. Sou mais um, e mais não quero ser, não quero sofrer com o sofrimento d'outros.
Partilharei com mil folhas, mil facetas, mil vidas... Apenas minhas.
Serei útil a mim mesmo, tornar-me-hei egoísta, terei rancor estampado na cara, e tatuarei no corpo apenas o nome de quem amo: Eu mesmo!
Serei alguém que ninguém reconhecerá mais, serei, no fundo, ninguém que ninguém queira.
Ou apenas continuarei a dar passos em falso e acarreto toda a gente no meu barco que acabará por se afundar num mar de angústia.

Por Pedro Cerqueira » Segunda-Feira Jul 12 2010 21:32

Cheiro

Lembro-me deste cheiro a novo... Tornado velho.
Perdeu-se e não só o cheiro, como o olfacto. Perderam-se as vontades, saberes, sabores; Apenas fica aquela saudade do cheiro a novo que agora recordo.
... Acordo e o olfacto apura-se, cura-se, talvez queira assim que o seja.
Aperto, agarro-o como se fosse de há anos atrás. O cheiro permanece, a fonte não é a mesma (Descobri). Assim o seja, talvez o prazer esteja apenas no cheiro.

Por Pedro Cerqueira » Segunda-Feira Jul 12 2010 21:25

Vou perdendo as minhas origens

Te escrevo, leitor.
Pois a minha vida te pertence e perdi as minhas origens. Perdi-te de vista, não te ouço desde algum tempo.
Culpa minha será também e serei egoísta se não disser que me desleixei, me deixei levar e te deixei nesta praia sem ondas, nem calor solar. Mas voltei... Não de vez, apenas te visito para que saibas que não me esqueci.
E esta doença leva-me os pensamentos, sentimentos e todo o resto que julgavas ser teu; Serei sim, no dia em que me prometeres que seja isto mais que um sonho e me aplaudas com mais que um gesto que milhares conseguem.
Vou-me afastando... A sombra do meu bote vem comigo, e confunde-se com o nevoeiro que espalhas para que pareças desconhecido. Tal como tu, que nada prometes, o farei eu, mais uma vez.
Mas garanto voltar, pois origens assim não se aprendem...
Confia em mim, mais uma vez, apenas desfolha, deixa-me abraçar-te, deixa que os meus sentimentos sejam os teus, seja a minha dor a tua. Sejamos uno, velho companheiro.

Por Pedro Cerqueira » Quinta-feira Jul 08 2010 11:25

Fechei os olhos

Fechei os olhos.
Ardiam-me, de tanto ver.
Vi, vi o que não quis.
Vi, vi o que quis.
Vi, vi-te.
Queima mas não sei o quê, nem porquê, não quis saber. Soube apenas que mudou a tua expressão, e a minha. Por diferentes, ou pela mesma razão, seja como for, cada qual mudou a direcção de um olhar, gesto, até mesmo uma cor, um som, uma melodia. E ardem os meus olhos, não abertos, mas fechados. Seja o meu destino ficar acordado... Por esta noite apenas, espero.

Por Pedro Cerqueira » Quinta-feira Jul 08 2010 11:28