Toda a gente já errou. Toda a gente já amou.

Com conta, peso e medida. Estava tudo lá.

Mas um dia, tudo foi-se. Até certo dia.

Entrou, não bateu à porta, nem descalçou os sapatos elameados, subiu as escadas, e foi ter ao sítio do costume, onde saberia que eu iria estar. Nem sequer se preocupou com a desarrumação que estava no quarto. Viu-me, de costas, pois eu estava a fazer qualquer coisa que não a pensar nela. Aproximou-se, pôs a sua mão sobre o meu ombro e disse, num tom mansinho, que precisava de mim. Eu não respondi.

E aí uma vaga de silêncio invadiu aquele espaço amplo e, embora desarrumado, vazio.

Não sei como, reparou nos arranhões e feridas que tinha: Perguntou-me o que se tinha passado. Eu apenas consegui esboçar um sorriso irónico, enquanto ela ia vendo todas aquelas feridas.

Mas ainda que ferido, os pensos rápidos daquela marca chamada "Orgulho" íam tapando a gravidade do assunto.

Ela, mais uma vez sem pedir autorização, arrancou-os e, depois de exposta a ferida, reparou que era ainda mais sério o assunto. ( Ainda bem, assim escusava de romper o meu silêncio )

Pediu desculpa, sabendo que a culpa era sua. Eu cerrei os dentes.

Ela argumentou dizendo que errar é humano. Eu pensei: " Humano é amar ". E no fundo estavamos os dois certos, não é grande a diferença entre um e outro.

Pedi-lhe para abandonar a sala. Ela, finalmente, respeitou. Depois disso, passei horas sozinho. A pensar nela.

Mas os pensos rápidos já não estavam lá, e aquelas horas pareceram dias. Levantei-me, abri a porta, e lá estava ela, à minha espera, como se soubesse que eu iria escolher a porta para sair, em vez da janela.

Falamos. E ao fim de um tempo chegamos ao acordo que a palavra-chave era dita Devagar. E assim foi.

Mas ao que parece a indiferença atropelou tudo isto, e eu fui levado no meio.

Recordo o acidente, claramente. Hoje estou bem, mas amanhã é outro dia... Ou só mais um.

Meio ano

Muito mais que esperávamos, muito mais do que pensávamos, mais que duas almas suportavam, mas tornou-se real. Já não são fantasmas, nem casas assombradas, já não são pensamentos, nem desejos; É meio ano. - Este é o nosso tempo, aquele que te falei.
E tirando o facto que soubesse que este existia, nunca pela mente me teria passado tanto. Desculpa, meu amor, se não me expresso bem, mas não quero eu dizer que é demasiado, mas sim que te amo.
Digamos até que já não o julgo como um tempo, mas sim um caminho: Rochoso por vezes, plano outras, e algumas vezes até seguimos lados em que nos levam para um caminho mais longo, mas continua a ser um caminho.
Agora simplesmente não vale a pena olhar para trás, ver o que já caminhamos e pensar que é muito, pois não sei bem o que tenho à frente, mas o mundo não é quadrado e nada cai no vago.

Por Pedro Cerqueira » Sábado Out 30 2010 12:02

Qualquer coisa

Passei tempos infinitos a tentar criar qualquer coisa, pois já tinha saudades de escrever. Mas «qualquer coisa» não vem só porque queremos, ou porque sentimos falta. Por vezes não pudemos ou nem sequer pensamos, e aí sim, surge «qualquer coisa».
O mesmo se passa com o desejo humano; Queremos muito ter qualquer coisa, e essa mesma coisa acaba por chegar... Mas não na altura certa, por vezes tarde demais. E sem dar conta, pudemos chegar a ter o que em tempos queríamos.
Mas esse mesmo querer passa, voa, e estagna. Passamos longe dele e do 'apetite visual e emocional' que havia até então, ignoramos uma presença, pensamos mais no que podíamos fazer e não no que vamos fazer, esquecemos um motivo e passamos a guardar tudo isto como uma memória; Ou chega este mesmo querer a ser arrastado para as margens do futuro, para que consiga este matar uma saudade, um desejo, ou um prazer que se confunde com um devaneio futuro.
E é quando temos qualquer coisa, que «qualquer coisa» surge.

Por Pedro Cerqueira » Terça-Feira Out 26 2010 00:10

Destruído em segundos

Seria hoje um dia - Não mais um, mas um especial - em que se comemoraria algo; Não se sabe ao certo porque se faz isto, mas costuma ser um hábito contar o tempo, e talvez estupidamente o diga, mas é essa contagem que faz pensar que seja muito, pouco ou suficiente.
Não se comemorá pois estas negras nuvens se puseram no meio, não sei de quê, mas lá estão, quase como presságio, avisando que choverá. Quase sim, pois a chuva não é certa de se dizer.
Guardo apenas aquelas memórias, passadas, pesadas de se esquecer, tanto boas como más, fica só aquela saudade nostálgica de todas elas, na esperança que não fiquem mortas num banco de jardim qualquer.
E tudo isto, que demorou meses a criar, com esforço e afeição, é destruído em alguns - poucos - segundos.

Por Pedro Cerqueira » Quarta-Feira Set 29 2010 19:01

Hábito

Tornou-se um hábito ver-te, ter-te, diariamente. Tanto que quanto mais te tenho, mais te necessito; Ou talvez não seja uma necessidade, mas sim um desejo.
Todas aquelas promessas - não feitas em vão, pois eu acreditava nelas - foram deitadas por terra, e abandonadas, abraçadas a mim.
Será meu único remédio guardá-las em mim, para mim, para que um dia as recorde e me agarre a elas, como nunca noutra altura qualquer teria feito.
As minhas ideias subitamente, desordenam-se, misturam-se com memórias, não falsas, mas fracas, que outrora vivi, mas que sejam apenas ideias... Pois te quero nunca longe.
Mas haverá nome para este sentimento de te querer cada vez mais, e sabendo, ainda assim, que és completamente minha? Há sim, chama-se hábito... O tão falado hábito.

Por Pedro Cerqueira » Terça-Feira Set 14 2010 21:03

Irmandade

Vindos do nada, ou cada um de seu mundo.
Cada um com uma história para contar, nunca normal, e ainda bem, pois é a diferença que torna um ser Humano único...
Com diferentes perspectivas, ou com a mesma, vista de diferentes ângulos; São defesa, força e magia num só, a autêntica muralha inultrapassável, em que nem uma única pedra se irá desmoronar, são a completude, a amizade numa união, única e simplesmente vivida, são um só se estão unidos e nada, se falha um membro.
E quando alguém cai, não chega ao chão, pois dois corpos sustentam esse mesmo, não importa as circunstâncias, ninguém cai ou desiste; É esta a razão da irmandade.
E torno-a uma razão também, para que possa acordar, pensar (não muito), e sorrir, pois vos tenho, irmãos; Talvez conseguisse viver sem vós, sem vos conhecer, mas não... Nada seria o mesmo.
Falo agora em ti, meu irmão, minha cópia autêntica, se foi ditado que os meus passos sejam os teus, e os teus os meus, então vamos lado a lado, para que possamos, até ao fim das nossas vidas, viver o mesmo... Juntos!
E tu, minha irmã, será verdade se disser que foi uma surpresa ter-te na irmandade, mas será igualmente verdade se disser que é um orgulho, tanto quanto um prazer, receber-te, de braços abertos.
...
Gostava de um dia fazer mais que simples palavras combinadas, para que pudesse dar-vos a entender o significado que vos atribuo, e acreditem que é muito.
Esta irmandade é sonho tornado realidade, e uma realidade que não quero que se desfaça... Nunca mais.


Dedicado: Diogo Carvalho e Maria Roque

Por Pedro Cerqueira » Sexta-Feira Set 10 2010 11:15

Não somos uno, somos união

Quem vivia em mim, seja qual fosse o seu nome, mudou-se. Não de sítio, mas de estado de espírito.
Compôs-se. E em gesto de concordância fez um esforço para unir o coração e a cabeça por um nó, um pequeno nó traçado. Certo é que a combinação não é óptima e por vezes este nem sempre aguenta. - Cabe-me a mim essa tarefa.
Perco a respiração sempre que um sufoco te cabe a mim ocorrer. (Não somos uno, somos união)
E as palavras que dizes... Diz-me outra vez, encontro-me nelas, ou talvez não, mas sinto-me seguro no nada que é meu.
Ao de leve uma mão vem-me tocando, não sei onde, pois perco a orientação de mim.
Encontro-me assim que te sinto perto, e não apenas uma mão.
Solta-se um beijo, o desejo, o querer mais que a vontade humana consegue. Mas porque a vontade ultrapassa a dos Deuses, finalmente, encontrei-te. - Seja essa a razão porque o tal que vive em mim mudou. - Agora não peço que fiques, faço sim um esforço para que fiques. Não hoje, nem amanhã; O tempo que achares conveniente, o tempo em que ainda haja este sentimento mútuo: O nosso tempo.
Indeterminável o tornamos, incontornável é, e talvez num outro tempo... Apenas nosso.

Por Pedro Cerqueira » Segunda-Feira Jul 12 2010 21:39